A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Verdade
Verdade
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2 comentários:
Que beleza de poema, também O grande Drummond.
Irradiações de luz para seu dia.
Abraços
Cara Norma,
Muito obrigada pela sua visita e comentário. É realmente um poema muito belo e que fala muito bem das ilusões do mundo, das polaridades, das dualidades que todos nós encaramos dia-a-dia: seja escuro-claro, verdade-mentira, bom-mau, etc... No entanto, acredito que a Verdade última, a Realidade, seja Una, e que apenas aparentemente, aos nossos olhos cheios de ilusão, seja dividida em metades...
Boas leituras!
Beijo
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