Findou o tempo em que a ausência se fez sentir.
O tempo em que a semente dormiu na terra quente e macia, protectora e mãe terminou.
A Lei da Terra
Surge uma dor, um esforço hercúleo que faz rebentar a superfície que continha o potencial de vida. Essa dor, esse esforço, essencial para que a Natureza teste a viabilidade da semente, servirá para por à prova as suas forças, para dar-lhe a resistência, exercitando-a para ultrapassar vitoriosamente o passo seguinte: vencer a resistência da própria terra. Diferenciar-se da sua Mãe primordial e cumprir a sua missão, a sua lei: crescer, expandir-se, dar abrigo, providenciar sustento, proteger outros seres. Passar do não-ser ao Ser.
Ao cumprir a lei da terra - resistir - terá que cumprir também a lei da água, estar em movimento, um movimento eficaz e direccionado. Assim, com os nutrientes que a água lhe proporciona, cresce e expande-se tanto para cima como para baixo, estendendo raízes ao inferior e o tronco ao céu, ao superior.
A Lei do Ar
Há pois um momento em que a resistência da terra é conquistada e a expansão dada pela água já se manifesta; segue-se então a prova do ar. Despojado de protecção, o pequeno rebento, num primeiro momento sente-se demasiado pequeno para poder vingar, demasiado frágil... Mas a lei da Natureza convida a progredir, a crescer, a desenvolver-se, expandir até ao céu, de onde vem a chuva tão nutritiva, onde brilha o sol que aquece e vitaliza... Olhando o céu, a pequena árvore estende os seus braços que alcançam cada vez mais altura, e que começam agora a ter uma perspectiva bem diferente do chão de onde saiu. De longe, tudo ganha mais sentido, tudo tem o seu papel no drama da vida, tudo cresce diferenciadamente e se desenvolve, mas de uma maneira una, como se tudo fosse um só rebento, proveniente de uma só semente.
Surgem então os ventos enlouquecidos, o calor tórrido do fogo descontrolado, as chuvas torrenciais, os animais que arrancam ramos e fazem ninho, insectos que recortam as folhas e as doenças oportunistas. Um furacão de coisas que se agitam acontece constantemente, tudo está em permanente mudança. Excepto o seu tronco, o seu próprio centro mantém-se para si mesma, imutável.
E assim, a árvore segue, renovando-se continuamente, resistindo com as raízes bem firmes na terra, alimentando-se da água e do sol, mostrando-se flexível para não quebrar com os ventos e as chuvas e aprendendo a aceitar os seres que interagem com ela com benevolência.
A Lei do Fogo
Chega a altura de partilhar com o mundo das suas vitórias, de transformar as dificuldades que passou ao crescer em algo maravilhoso. Surge uma flor. E logo outra. E outra ainda.
Revestida de flores, a árvore regozija exalando o seu perfume, despertando os seres para este sentido transcendente e subtil. Convida assim a que estes participem do seu festim, oferecendo o seu néctar precioso e doce que surge finalmente após as lições amargas que venceu e conquistou.
Geram-se os frutos, que crescem e alimentam, deixando assim novas sementes cair à terra para que germinem, renovando as formas com que a Vida Una se manisfesta em todo o lado.
"O que está em cima é como o que está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima." - Kybalion
A Lei do Éter
Assim surge um fio que entrelaça e une a tudo como uma matriz, anterior aos elementos e posterior a eles, anterior à árvore, anterior à diferenciação das coisas e da mutação das formas e posterior a tudo isso. Surge o Ser, por detrás da face do Parecer. Surge a consciência que permeia tudo, que se apercebe da vida que existe na árvore, no pássaro, na rocha, no homem, na energia que forma o espaço, na matéria que o preenche e se degrada com o tempo. Assim surge a Unidade, e acaba o espaço, o tempo, a ilusão.