quinta-feira, 24 de abril de 2008

Deus te livre, Poeta...


Deus te livre, poeta,
de verter no cálice do teu irmão
a mais pequena gota de amargura,
Deus te livre, poeta,
de interceptar sequer com a tua mão
a luz que o sol oferece a uma criatura.
Deus te livre, poeta,
de escrever uma estrofe que entristece;
de turvar com o teu cenho
e a tua lógica triste
a lógica divina de um sonho;
de obstruir a senda, a vereda
que percorra a mais humilde planta;
de quebrar a pobre folha que roda;
de entorpecer, nem com o mais suave
dos pesos, o ímpeto de uma ave
ou de um belo ideal que se levanta.
Tem, para todo o júbilo, o santo
sorriso acolhedor que o aprova:
por uma nota nova
em toda a voz que canta;
e tira, pelo menos,um pequeno espinho a cada prova
que torture os maus e os bons.

Amado Nervo, Março de 1916

O Caminho

"Não podes caminhar no Caminho enquanto não te tornares, tu próprio, esse Caminho"


Helena Petrovna Blavatsky em A voz do silêncio


Uma grande caminhada começa sempre com um pequeno passo


Todos nós algum dia nos questionámos de onde viemos e para onde vamos ou qual é o sentido da vida. Porque é que nascemos, porque que é que vivemos e porque é que havemos de morrer. Qualquer pessoa que medite sobre estes assuntos pressente, ainda que vagamente, que não somos fruto do acaso, e que algo há que nos impele todos os dias a levantar e a viver. Inúmeras civilizações se questionaram sobre o binómio vida-morte sem grandes traumas, conjugando-o como uma unidade vital sob dois aspectos. Vida e morte não eram mais do que dois lados da mesma moeda e ambas eram compreendidas e assumidas desde os primeiros anos com os primeiros ensinamentos. Tudo na Natureza é cíclico, tudo nasce, vive, morre e se renova. O fim não existe, apenas o retorno à origem. A semente que cai à terra, aparentemente morta, contém vida, que desponta no seu devido tempo. Essa vida cresce e manifesta-se até que é chegado o tempo em que recolhendo-se, morre, não antes de deixar novas sementes para que possa renascer... As estações continuamente se revezam, o sol nasce e põem-se sem cessar; tudo caminha inexoravelmente segundo leis naturais que podemos referir como o Dharma e o Karma.

Conceitos que Jorge Angel Livraga explica num trecho do livro "O Sentido Oculto da Vida":


"O Dharma é uma lei universal que conduz tudo até uma finalidade, um destino. É como um caminho (Sadhana) programado por Deus para todos. Aquele que tenta sair do Dharma é rejeitado dolorosamente, aquele que se ajusta ao Dharma não sofre. A possibilidade dos seres se desviarem é múltipla. No Homem, esta possibilidade é dada pelo seu relativo livre arbítrio. A Roda das Reencarnações (Samsara) proporciona-lhe a oportunidade de actuar, correcta ou incorrectamente; qualquer excesso, em ambas as direcções, gera Karma, «Acção», na qual as causas se unem inexoravelmente aos efeitos. As sementes kármicas (skandas) levam a novas reencarnações, as quais não terminam até que não se esgote o motor kármico. Então, atinge-se o Nirvana, que não é um verdadeiro fim, mas uma pausa no Caminho das Almas."


Assim, a senda ou caminho é o percurso de descoberta do nosso verdadeiro eu, a descoberta da nossa finalidade, o ajustarmo-nos ao "caminho do meio". É a busca continua da Verdade e da Perfeição, da iluminação espiritual ou união com o divino. O karma, tantas vezes visto como algo mau, não é mais do que um alerta, tal como os nossos sentidos nos fazem sentir dor ao aproximarmo-nos do fogo para que não nos destruamos. É um guia para que possamos reconhecer o caminho e mantermo-nos nele.


"Nosce te ipsum" (Conhece-te a ti mesmo)

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